Geração Z pode revolucionar a dinâmica dos escritórios de advocacia no mercado de trabalho

Caio Augusto*

Conforme estudo do Edelman Trust Barometer 2022, intitulado “A Nova Dinâmica da Influência”, 70% dos zoomers, em escala mundial, estão envolvidos em causas sociais e políticas. A reflexão se estende à cultura de trabalho. 64% da amostragem, no Brasil, apresenta dados que corroboram com a interferência dessas pessoas sobre a cultura no ambiente corporativo.

Esta geração cresceu num tempo cuja mudança faz parte, intrinsecamente, do cotidiano. Há uma busca incessante por informações, por meio das mídias sociais e da tecnologia móvel. Essa amálgama de elementos os galvaniza, gerando um conjunto de valores diferentes dos seus pares com mais tempo de mercado (gens X e Y). Isso influencia a forma pela qual eles encaram a atividade laboral e a maneira pela qual eles conciliam vida profissional e pessoal.

No Brasil, é cada vez mais difícil encontrar jovens que tenham a pretensão de permanecer na mesma instituição por muito tempo. À medida que se tornam cada vez mais essenciais para o direito, enquanto força de trabalho, os escritórios precisarão se adaptar às suas demandas.

Existe a tendência por se atraírem muito mais a estilos de vida mais livres do que à imagem do advogado ilibado decorrente da função e da hierarquia social. Enquanto os millennials se empenharam muito para alcançar boa colocação profissional, os Gen Z preferem atribuir às suas vidas critérios mais racionais: entendem que têm deveres com a profissão, mas não os encaram se submetendo a status. Num primeiro momento, este fenômeno mostra um conflito de ideias e comportamentos.

Portanto, como podemos mediar uma transição tão abrupta quanto esta que se apresenta em nossos tempos? Os colaboradores devem tirar do vocabulário a palavra “conflito”, substituindo-a por “encontro” geracional. Tais locais podem conter elementos que promovam a efervescência de ideias, melhorando a produção de tarefas. A diversidade também pode trazer benefícios: criatividade, inovação e observações diferentes quanto ao mesmo produto.

A começar pela relação, o retorno construtivo funciona melhor que o impositivo. Contar com as boas características dos advogados veteranos, nesses casos, contribui para desenvolver o vínculo nas interações e nos diálogos com a nova leva que ingressa no mercado. As práticas implementadas valorizam seus funcionários e promovem um ambiente de trabalho saudável e colaborativo. Redefinem-se as regras do jogo. Valorizam-se experiências significativas e um lugar que promova bem-estar.

Entretanto, muitos escritórios relatam que não conseguem manter bons profissionais. Isso afeta os pequenos e os grandes empreendimentos. Os menores oferecem baixos salários, são mais competitivos e possuem benefícios diferenciados; os grandes tentam criar uma cultura que faça o integrante permanecer na empresa.

A criação de programas de mentoria, incentivos à educação e à formação continuada, flexibilidade no horário, promoção de diversidade e inclusão, além de oferecer benefícios como seguro saúde, auxílio-creche e licença-paternidade estendida são quesitos necessários para retê-los.

Esta é uma das gerações que mais tem interesse por audiência genuína; ou seja, eles gostam de ser ouvidos. Por isso, criar um plano de desenvolvimento para o time pode ajudar na interlocução entre as partes que compõem a equipe. Espaços com segurança psicológica costumam determinar a permanência dessas pessoas . Conforme especialistas, o ideal é valorizar a individualidade de cada um e encorajar as contribuições.

Escritórios de advocacia que investem na nova geração podem, ainda, estruturar departamentos, como, por exemplo, o compliance, dedicado à boa governança corporativa e ao combate à corrupção. A contratação de jovens advogados moderniza os escritórios, conduzindo-os em direção às novas tecnologias. Eles são, desde o berço, ligados à tecnologia da informação. Têm conhecimento de infraestrutura de TI. Um bom software jurídico é condição fundamental para a produtividade, efetividade e qualidade dos serviços prestados.

Este é o momento para inovar paradigmas tradicionais arraigados à nossa profissão desde os primórdios. Não podemos nos esquecer de que a lida jurídica envolve costumes e conceitos já fundamentados em nossa sociedade – arrisco a dizer – há milênios. Mas isso tem de servir como dínamo para aliar passado, presente e futuro numa só conjuntura.

É o momento de deixar para trás velhos hábitos, como a gestão de pânico. Isso pode aumentar a rotatividade da equipe. Especialmente, quando se trata de colaboradores da geração Z. Quando as opiniões e ideias dos funcionários são valorizadas, gera-se uma cultura de confiança e respeito mútuo, fortalecendo a equipe e aumentando a produtividade.

*Caio Augusto é advogado, mestre em Direito Constitucional, ex-presidente da OAB-SP.