Luana Morais*
Finalizar o ensino médio, estudar para o vestibular e viver o ambiente universitário, até chegar à formatura, deixou de ser o sonho de muitos jovens brasileiros. O total de inscritos nos vestibulares do país, e também no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), vem caindo ano a ano, revelando um perigoso descompasso dos jovens com a universidade.
Para se ter uma ideia, o número de inscritos no Enem em 2022 foi o segundo menor desde 2005, quando a prova ainda não tinha o caráter de um vestibular nacional. Foram 3,4 milhões de inscritos no ano passado e 3,1 milhões em 2021 – os dois menores totais em 17 anos. O exame, considerado a principal porta de entrada nas universidades federais, chegou a ter 8,7 milhões de inscritos em 2014.
Essa realidade não é só por aqui. Nos Estados Unidos, por exemplo, houve uma queda significativa e constante no número de graduados do ensino médio que se matriculam na faculdade – de 70% em 2016 para 63% em 2020, dado mais recente disponível, de acordo com o Centro Nacional de Estatísticas da Educação.
Mais uma vez a culpa cai na conta da pandemia de covid-19, mas a queda vem desde antes disso. No Brasil, o número de formandos nas instituições de ensino superior caiu em 2019. Cerca de 14 mil pessoas a menos terminaram a graduação. Com relação a 2018, o montante sofreu uma redução de 3,7%.
Mesmo que se concorde ou não que a culpa é da covid-19, há de se aceitar que a pandemia só piorou as coisas. Por isso, é impossível debater a preocupante queda no número de jovens que concorrem a uma vaga na universidade sem olhar com cuidado para as crises econômica, política e sanitária que assolaram o país nos últimos anos.
Para se ter uma ideia, um em cada dez jovens entre 11 e 19 anos abandonaram os estudos durante a pandemia e não retornaram para a escola, segundo um estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) divulgado em setembro do ano passado. O principal motivo (48%) foi a necessidade de trabalhar.
O que percebemos é que o contexto socioeconômico do país tem interferido no interesse em entrar na universidade. O empobrecimento empurra os jovens cada vez mais cedo para o mercado de trabalho, e o encantamento pelo salário, mesmo baixo, se torna uma solução imediatista. A necessidade familiar urgente de uma renda é fator preponderante para que a opção pelos estudos fique em segundo plano.
Mas o que eles não avaliam é o reflexo dessa decisão em suas futuras carreiras, já que sabemos que trabalhadores com diplomas de bacharel ganham 67% a mais do que pessoas somente com o ensino médio. Essa decisão também poderá acarretar em sérias consequências para a economia do país daqui uma ou duas gerações, se esse ciclo não se alterar.
*Luana Morais é coordenadora da Subcomissão de Acadêmicos e Estagiários da OAB-GO.