Luiz Antonio Sampaio Gouveia*
A imprensa, uma invenção de um alemão chamado Gutemberg, depois que a Humanidade descobriu o fogo, certamente foi o mais importante acontecimento da história do ser humano no planeta Terra. A propagação do conhecimento, que ela permitiu à sociedade europeia, do Século XV, difundido daí para todo mundo, distribuiu conhecimento e dúvidas consequentemente e desaguou nas revoluções francesa do século XVIII e russa do Século XX e não se sabe mais, onde pode chegar. Tornou o conhecimento universal e a cultura bens extensivos às diversas classes sociais de forma não necessariamente difusa, de imediato, mas que até hoje vai informando e formando pessoas, revolucionando-as, como as retira paulativamente da escuridão da ignorância, o que gera consciência das injustiças e rebuliços sociais.
Multiplicou geometricamente a comunicação humana e criou novas necessidades pela descoberta de novos valores, dando causa a novos princípios que verticalizam a cultura, no entanto, que atuam em um sistema binário de ação e reação, que leva indiscutivelmente ao confronto entre segmentos sociais distintos, causando um rebuliço cultural em que estes grupos divergentes propendem a um radicalismo igualmente binário. Peculiar a momentos de grande convulsão social. Assim foi no confronto entre o nazismo e a democracia liberal dos anos 1930, em que se conflagrou toda Humanidade, em que pese o totalitarismo soviético primo próximo do fascismo nazista, fosse uma ovelha desgarrada que, por sobrevivência, se acasalou com o que chamamos, desde a Primeira Guerra Mundial, de democracias ocidentais.
Pode se dizer que a imprensa mudou tudo, desde como e porque nascer até como e porque morrer, tendo sido assim, o dínamo de todas as mudanças. Mas se o conhecimento se democratizasse pela revolução das letras, a que a imprensa deu causa, contraditoriamente, o sistema de difusão de suas ideias tinha uma disciplina manipulada por uma elite que a remetia para a massa consumidora de notícias, racionalmente.
Hoje existe um proletariado intelectual, que consome conhecimento, pela cibernética, de maneira atabalhoada e sem critério de informação e não sujeita à confirmação da verdade, que nos desafia a indagar, qual o centro real de construção das versões, em que a verdade se tornou a narrativa mais convincente e o ser humano se lança à hipótese difundida a mesmo querer viver e morrer pelas ficções.
Muito difícil alguém encontrar nisto e precisar qual o dínamo deste movimento, o qual, não obstante, deva ter uma propensão para chegar a algum lugar, entretanto, não se sabe onde. Uma questão de ser ou não ser. Neste contexto, das redes sociais e aplicativos de mensagens e informação, em um espaço temporal em que não nos habituamos a viver e operar ainda, surge a inteligência artificial que possibilita à minha e à sua máquina digital, pensar livremente, transformando o meu computador em um centro de produção de conhecimento autônomo, como milhões deles pelo mundo afora, deconectado de um pensamento universal. Vão mudar a paz e a guerra. A liberdade e a tirania. Cada computador poderá ser uma máquina de matar ou viver. Alguém diria, assim caminha a Humanidade! Onde estará o desafio das próximas gerações? Não adianta pensar em ordenar a desordem, se não nos ordenarmos a nós mesmos. Como? Buscando um ponto de equilíbrio, que não faça morrer a liberdade e a democracia. A morte delas, pode ser o nascimento da escravização das máquinas.
*Luiz Antonio Sampaio Gouveia é advogado, sócio de Sampaio Gouveia Advogados Associados, conselheiro do IASP e do Con-sea/FIESP, mestre em Direito Constitucional pela PUC-SP, especialista em Administração Contábil e Financeira pela Escola de Administração de Empresas da FGV, especialista em Direito Penal Econômico pela GVlaw e ex-conselheiro da OAB-SP e da AASP.