Depois dois dias, terminou no fim da tarde desta quarta-feira (19), no Fórum da cidade de Goiás, o julgamento do advogado Adelúcio Lima Melo. Ele foi condenado a 27 anos e seis meses de prisão por ter sido considerado o mandante do assassinato do também advogado Hans Brasiel da Silva Chaves. O crime ocorreu dentro do escritório do criminalista, em 6 de fevereiro de 2020, em Aruanã.
A exemplo do que fez ao longo do processo, Adelúcio sustentou, durante a sessão de julgamento, que teve início na terça-feira (18), a tese de negativa de autoria. Ou seja, que é inocente das acusações impostas pelo Ministério Público.
Outros condenados
Dois outros acusados de envolvimento no caso já foram sentenciados: Wuandemberg Alvares Farias Silva, conhecido Vandim, foi condenado a 15 anos de reclusão e Rafael Alves da Silva, a 17 anos e 11 meses de reclusão. Eles formam condenados em 26 de abril deste ano.
Na época, Adelúcio não foi julgado porque abandonou o plenário do júri após recusar a se submeter às exigências dos órgãos de segurança pública que recomendavam a utilização de algemas. Diante dessa atitude, o juiz Flávio Florentino de Oliveira desmembrou o processo em relação ao réu.
Conforme ponderou o magistrado, na ocasião, Adelúcio “vem reiteradamente abusando do seu direito de defesa, tumultuando o processo e impedindo sua marcha regular, causando diversos percalços para o desate da questão criminal e, em especial, de seu próprio julgamento”.
O desaforamento (mudança de comarca) do julgamento para a cidade de Goiás e não no local do crime, segundo apontado pelo Ministério Público, ocorreu justamente porque Adelúcio exercia grande influência nas pessoas da cidade onde ocorreu o assassinato.
Denúncia
Conforme apontado na denúncia, oferecida pelo promotor de Justiça Augusto Henrique Moreno Alves, em atuação na comarca à época dos fatos, Adelúcio exercia a advocacia na comarca de Aruanã, principalmente na área criminal, e sentiu-se incomodado com a chegada de Hans ao município, já que ele também atuava em causas criminais. Segundo apontado pelo MP, em agosto de 2018, Hans firmou contrato com ex-cliente de Adelúcio e obteve a sua soltura, situação que gerou uma discussão entre ambos e uma ameaça de morte feita pelo denunciado no interior do Fórum de Aruanã.
De fato, segundo a denúncia, Adelúcio agenciou pessoas para efetivamente matar Hans, mas não obteve êxito. Após não obter sucesso na primeira tentativa de homicídio, o denunciado passou a arquitetar nova forma de matar Hans, dessa vez, contando com o auxílio de seu amigo Wuandemberg Silva, que entrou em contato com Rafael e ofereceu-lhe para que matasse a vítima mediante a promessa de pagamento do valor de R$ 7 mil. Ao articularem o agenciamento do executor, Adelúcio e Wuandemberg obtiveram uma motocicleta e uma arma, que seriam utilizadas no crime.
Ao combinarem a execução do crime, os mandantes, segundo o parquet, detalharam com Rafael a forma que ele deveria proceder, rota de fuga e que, caso fosse preso, deveria justificar falsamente o fato, alegando que o crime foi ordenado por uma facção criminosa, pois a vítima não cumpria com seus contratos. Essa justificativa teria sido planejada previamente por Adelúcio, que já havia protocolado perante a Promotoria de Justiça de Aruanã diversas representações desta natureza contra Hans.
Assim, no dia anterior à execução, conforme a peça acusatória, Rafael foi levado até a panificadora onde Hans costumava tomar café da manhã, com o objetivo de que o executor visse pessoalmente seu alvo e evitasse qualquer erro no plano. Na tarde de 6 de fevereiro, Rafael, que havia oferecido R$ 500,00 para que um adolescente o auxiliasse na fuga, recebeu ligação de Adelúcio, confirmando que Hans estava em seu escritório e o crime deveria ser executado naquele momento.
Após chegar no escritório, Rafael entrou na sala do advogado Hans com a arma em punho e, surpreendendo-o, efetuou diversos disparos em sua direção, sendo que um dos disparos atingiu uma cliente da vítima na perna. Em seguida, ele fugiu do local, contando com o auxílio do adolescente. Rafael foi preso em flagrante no dia seguinte pela Polícia Militar. Os três envolvidos no crime encontram-se atualmente presos.