Advogada, que superou a deficiência visual, será empossada em Comissão de Mediação da OAB-GO

 

A advogada Carolina Marquez Castro e Silva tem apenas 8% da visão
A advogada Carolina Marquez Castro e Silva, de 36 anos, tem apenas 8% da visão

Marília Costa e Silva

A advogada Carolina Marquez Castro e Silva tem 36 anos. Nessas mais de três décadas de vida, ela sempre teve de se esforçar muito para conseguir garantir sua educação formal. Isso porque nasceu com corriorretinite macular, causada em virtude da sua mãe ter contraído toxoplasmose na gestação. A doença fez com que ela tivesse problemas graves na retina, que ocasionaram na quase perda total da visão. Hoje, ela enxerga apenas 8% se comparado a uma pessoa normal.

Carolina, que conversou com o Rota Jurídica na tarde desta quarta-feira (3), garante que apesar das limitações impostas pela deficiência, hoje ela é uma pessoa realizada na profissão. Na sexta-feira (5), ela será empossada pela segunda vez como membro da Comissão de Conciliação e Arbitragem da seccional goiana da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-GO). O convite para assumir o cargo feito pelo presidente da comissão Renan Santos Martins não surgiu por acaso. Carolina tem muitos conhecimentos na área. Ela é pós-graduada em mediação. Também já atuou por vários anos na Banca de Conciliação do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO).

A leitura é feita como os olhos quase pregados no papel
A leitura é feita como óculos especiais. Ela tem de ficar com os olhos quase pregados no papel

Ela conta que pretende, na Comissão da OAB-GO, divulgar os meios alternativos de solução de conflitos, capacitar novos mediadores e até repassar suas experiências para estudantes universitários que se interessarem pela área. “Minha intenção é seguir por este caminho para ser tanto uma mediadora judicial quanto extrajudicial”, explica.

Muito eloquente e segura, Carolina lembra que nem sempre foi fácil pra ela demonstrar o que sente e o que aprendeu. Isso porque desde muito pequena ela teve de superar suas limitações para tentar garantir uma vida razoavelmente normal. Segundo a advogada, quando os médicos diagnosticaram sua deficiência visual, sua família mudou com ela para Paris, na França, onde um médico especialista em oftalmologia, a ensinou a se locomover sem trombar nas pessoas e nem nos objetos e móveis da casa. Os pais dela também foram orientados a lidar com sua deficiência visual e forma a não poupá-la para que ela pudesse aprender com seus erros e acertos.

Carolina afirma que os tratamentos constantes foram muito úteis e preciosos. “Hoje eu sei que tenho muitas limitações, mas não sofro mais com elas”, diz, afirmando que nunca vai poder atravessar uma rua sozinha, dirigir seu próprio carro ou mesmo andar de bicicleta. Apesar disso, para garantir certa independência, ela conta que tem convênio com uma empresa de táxi, que a leva onde ela precisa. “Não tenho de pedir a todo instante que minha família fique em volta de mim”, frisa.

A advogada Carolina Castro enxerga apenas 8% do que uma pessoa com visão normal
Carolina usa um software que amplia os caracteres e imagens vistas pelo computador

E para que possa fazer suas petições, consultar doutrinas ou jurisprudências, ela usa o computador com a ajuda de um programa especial. Trata-se do Lara Mara, que permite a ampliação dos caracteres e imagens visualizados na tela do micro. Carolina também usa um óculos especial com lentes de mais de 11 graus. “E mesmo assim tenho de aproximar meu rosto o mais próximo possível do monitor para conseguir enxergar”, relata.

Ela conta que um dia, quando fazia estágio em uma das Câmaras Cíveis do Tribunal de Justiça de Goiás, um advogado fez piada ao vê-la com o rosto pregado no monitor. “Você vai engolir a máquina”, ele teria dito de forma jocosa. “Me senti muito triste na hora, mas fiz questão que ele soubesse que apesar da limitação visual eu conseguia executar com perfeição minhas tarefas”, diz Carolina, que não gosta mais de levar desaforo para casa.

Segundo a advogada, quando era criança ou mesmo na adolescência, as brincadeiras feitas pelos colegas de escola a magoavam muito. “Hoje vejo que era bullyng o que eu sofria, mas na época achava que era pura maldade dos outros meninos e meninas, que faziam questão de jogar meus objetos escolares no chão para que os encontrasse tateando no chão”, diz. Eles também riam os óculos fundo de garrafa que Carolina tinha de usar. “Não foi fácil, mas me fiz mais forte a cada dia. Prova disso é que consegui entrar para faculdade, passar no Exame de Ordem e hoje atuar na minha área”, finaliza.