Thais Inácia*
Nenhuma notoriedade pública, por maior que seja, justifica ou atenua atos de agressão, especialmente quando direcionados a mulheres. Ganhou ampla repercussão nas redes sociais, nas últimas semanas, um vídeo protagonizado por um advogado de destaque digital e sua companheira, registrado em Maceió (AL), cujas imagens suscitam grave preocupação quanto à violência de gênero.
A advocacia, como função essencial à justiça e baluarte da legalidade, deve se pautar por condutas éticas, públicas e privadas, que reflitam o compromisso com os direitos humanos, a dignidade da pessoa e a não violência.
A visibilidade alcançada nas redes não pode ser confundida com imunidade social ou ética. Pelo contrário: quanto maior o alcance, maior a responsabilidade.
O alcance que as plataformas digitais conferem aos advogados e advogadas hoje exige uma postura exemplar. Quem fala para milhares, muitas vezes milhões, precisa compreender que sua conduta — pública e privada — reverbera, influencia e forma opinião.
A violência de gênero é uma chaga que precisa ser combatida com firmeza e clareza. O silêncio, a omissão ou a relativização não têm lugar numa advocacia que se pretende cidadã e comprometida com os direitos humanos.
A OAB, tem, entre suas atribuições, o papel de estudar os impactos das plataformas digitais no exercício da advocacia, acompanhar os desdobramentos do uso das redes sociais por profissionais do Direito e propor diretrizes para garantir que a ética e o respeito caminhem lado a lado com a inovação.
Nenhuma visibilidade, nenhum engajamento, nenhum “reconhecimento digital” justifica a violência. Mais do que nunca, é hora de refletirmos sobre o papel social de quem ocupa posições de influência e liderança — sobretudo quando esse alguém é advogado ou advogada.
A violência contra a mulher é um grave problema social e jurídico. Não há espaço para conivência, silêncio ou relativizações. A advocacia deve, e continuará, sendo aliada na defesa intransigente dos direitos das mulheres, dentro e fora dos tribunais, nas redes e na vida real.
A advocacia deve ser exemplo. A OAB continuará vigilante, como já demonstrou ao se posicionar sobre o caso, e seguirá acompanhando os desdobramentos, garantindo o devido processo legal e a apuração da conduta profissional, com o sigilo que o procedimento exige.
Responsabilidade social também se exerce no feed. E começa pelo respeito.
*Thais Inácia é conselheira federal da OAB.