Juízes e promotores articulam candidaturas para as próximas eleições

Com ações de combate à corrupção no currículo, nomes do Judiciário e do Ministério Público ensaiam se lançar à política neste ano. Em ao menos cinco Estados, procuram viabilizar candidaturas ao governo ou ao Senado.

Famosa pela crítica aos “bandidos de toga”, a ex-ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Eliana Calmon (foto) puxou a fila e se filiou ao PSB em 2013 para concorrer ao Senado pela Bahia. Há ainda dois procuradores, um promotor e um juiz que deixaram o Judiciário para disputar, respectivamente, os governos de Alagoas, Tocantins, Amapá e Mato Grosso.

Em comum, prometem defender as bandeiras da ética e da qualidade do gasto público, demandas que apareceram com força durante os protestos de junho de 2013. “A sociedade está descontente, não se sente representada e quer mudança dos atores políticos”, diz Calmon.

Em Alagoas, o ex-procurador-geral de Justiça Eduardo Tavares (PSDB) é o nome da situação para a sucessão de Teotonio Vilela Filho (PSDB). A aposta tucana é no histórico de ações de Tavares contra o crime organizado e a “máfia do lixo”em Maceió. “A população busca um novo perfil de candidato”, diz Tavares, que deverá enfrentar Renan Filho (PMDB), filho do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB).

Em Mato Grosso, o juiz Julier Sebastião da Silva trocou uma carreira na Justiça Federal que duraria até 2023 para tentar ser chefe do Executivo pelo PMDB. Nas urnas, deverá disputar votos com o senador Pedro Taques (PDT), ex-procurador da República.

Após condenar centenas por crimes ambientais e de improbidade administrativa, entre outros, Silva diz que a guinada política responde a uma demanda por “candidatos com espírito público”.

Ele diz que “não começou ontem”. “Tive uma carreira de 19 anos no Judiciário, sempre com independência”. No Tocantins, o ex-procurador da República Mário Lúcio Avelar (PPS) tenta viabilizar seu nome ao governo, construindo palanque para a candidatura de Eduardo Campos (PSB) ao Planalto.

O ex-procurador, que atuou nos escândalos dos sanguessugas (desvio de verbas federais da saúde) e dos aloprados (tentativa de compra de dossiê contra tucanos por petistas nas eleições de 2006), enfrenta resistências no PPS, que apoia o ex-governador Siqueira Campos (PSDB).

No Amapá, o ex-promotor Moisés Rivaldo ingressou no PEN para disputar o governo, mas ainda tenta costurar o apoio de outros partidos.

O presidente da Associação de Magistrados do Brasil (AMB), João Ricardo Costa, diz ver com cautela as investidas políticas de nomes ligados ao mundo jurídico. “É preciso ter maturidade e não tratar esses personagens como salvadores da pátria”.  (Folhapress)