Juiz federal reafirma em audiência que foi chantageado por mulher de Cachoeira

O juiz federal Alderico Rocha Santos confirmou ontem (27), durante audiência na 5ª Vara Federal de Goiânia, que foi mesmo chantageado pela empresária Andressa Mendonça (foto), mulher do contraventor Carlinhos Cachoeira. O magistrado destacou que ela o ameaçou com a divulgação de um dossiê, caso se negasse a soltar o marido dela, preso durante a Operação Monte Carlo. “Fiquei perplexo com a situação, pois nunca tinha passado por algo assim”, disse o juiz durante o depoimento.

Além do juiz, também foram ouvidas duas testemunhas, sendo uma de defesa e uma de acusação. O interrogatório da empresária, no entanto, foi marcado para o dia 12 de março do ano que vem. Andressa é acusada de tentar chantagear o juiz durante uma visita no dia 26 de julho do ano passado. Segundo a denúncia do Ministério Público Federal em Goiás (MPF-GO), ela pediu ao magistrado que concedesse a liberdade a Cachoeira. Na época, Andressa chegou a ser detida pela Polícia Federal, mas pagou fiança de R$ 100 mil e foi solta.

A empresária responde pelos crimes de corrupção ativa e coação no curso do processo. Durante a audiência desta tarde, presidida pela juíza substituta Mara Elisa Andrade, o juiz relatou como Andressa teria lhe chantageado para conseguir a soltura de Cachoeira. Segundo ele, após muita insistência, ela foi recebida na própria sede da Justiça Federal, na capital. Durante o encontro, Andressa teria pedido ao magistrado que concedesse a liberdade ao marido, ou, pelo menos, o julgasse com uma pena reduzida, para que ele pudesse cumprir e voltar logo para a casa.

Depoimento

Alderico Rocha Santos disse ontem que, a todo o momento, Andressa enfatizou que todos os familiares do contraventor estavam sofrendo muito com a prisão dele e que, por isso, ela estava lá para fazer a solicitação pessoalmente. “Eu expliquei para ela que não poderia expedir a soltura e que entendia que a prisão se fazia necessária para o bem andamento do processo”, destacou.

Nesse meio tempo, além do juiz e de Andressa, também estava na sala a servidora da Justiça Federal Kleine Santos da Silva Alves.  Segundo Rocha Santos, a empresária pediu, por meio de gestos, que a funcionária saísse da sala. “Eu disse que ela era de confiança e que não era necessário. Mas Andressa insistiu e eu acabei pedindo para que Kleine aguardasse do lado de fora. Em seguida, ela mudou o tom da conversa e disse que existia um dossiê sobre mim e que ela poderia impedir a divulgação, caso eu libertasse Cachoeira”, explicou.

O suposto material citado pela empresária estaria nas mãos de um repórter, do qual ela e o marido seriam amigos. “No momento em que ela me falou sobre isso eu fiquei surpreso. Ela continuou argumentando e eu fiz uma retrospectiva na minha cabeça para saber se tinha feito algo de errado. Após pensar um pouco, vi que não tinha nenhuma conduta ilegal e disse a ela que ela poderia divulgar tal dossiê”, disse o juiz.

Ainda segundo o magistrado, além dele, outras três pessoas, cujos nomes foram escritos em um pedaço de papel por Andressa, também estariam citadas no dossiê. “Quando fiquei sabendo sobre o teor de tal documento me tranquilizei. Pois eram fotos em que eu aparecia ao lado de amigos e não tinha nada de irregular nisso”, disse.

Ao receber a negativa do juiz, Andressa teria insistido na soltura do marido, mas acabou deixando a sede da Justiça Federal. “Eu nunca tinha passado por uma situação daquelas e não sabia se ela tinha cometido algum crime. No entanto, ao comentar o caso com colegas, eles me orientaram a documentar o que tinha acontecido. E foi o que eu fiz, enviei o caso para o MPF”, concluiu o juiz.

Após o depoimento de Rocha Santos, foi a vez da funcionária Kleine Santos da Silva Alves falar. Ela reafirmou a versão do juiz e disse que Andressa insistiu inúmeras vezes para que o magistrado libertasse Cachoeira. Depois ela saiu da sala e só foi saber sobre a ameaça com o dossiê quando o juiz relatou o caso.

Em seguida foi ouvida a aposentada Maria Adalgisa Machado, testemunha de defesa de Andressa. Ela contou que conhece a empresária há mais de 10 anos e que nunca soube de nenhum fato que a desabonasse. “Ela é uma boa mãe de família e profissional honesta”, ressaltou. Sobre a acusação, ela disse que só ficou sabendo do caso pela imprensa. Com informações do portal G1/Goiás