Lavradora que morou 45 anos na beira da estrada receberá benefícios atrasados

A trabalhadora rural Maria Santana Lucas tem 59 anos
A trabalhadora rural Maria Santana Lucas

Após morar 45 anos na beira da estrada em uma casa de lona, o sonho de toda uma vida da trabalhadora rural Maria Santana Lucas, de 59 anos, de conhecer o pai de 92 anos, acometido hoje por um grave câncer de pele, poderá finalmente se tornar realidade. Foi na banca três do Fórum de Santa Helena de Goiás que ela teve seu pedido de aposentadoria concedido durante ação do Programa Acelerar – Núcleo Previdenciário realizado na comarca nesta quarta-feira (16).

A audiência foi presidida pela juíza Aline Freitas da Silva que, em acordo com a procuradora do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Eulina Brito Berni, deferiu o pedido pleiteado por Maria e determinou que o benefício seja implantado em até 60 dias. O órgão também terá de pagar à trabalhadora R$ 12.686,80, valor retroativo a 17 de janeiro de 2014, pelo benefício em atraso.

Maria nunca frequentou escolas, não teve acesso a livros, nem sabe ler ou escrever. Com a ajuda dos filhos, só reconhece as letras do próprio nome. Desde muito pequena aprendeu a capinar, limpar a casa, trabalhou em colheitas de milho, cana e algodão, e criava galinhas para o próprio sustento. Casada há 46 anos com o também lavrador Geraldo Izídio Lucas, teve 10 filhos, que lhe proporcionaram 28 netos e 7 bisnetos. Ao entrar na sala de audiência, ela se sentou e fechou os olhos. Naquele momento, fez uma oração para que tudo desse certo.

Quando foi informada pela magistrada que estava aposentada, ela chorou emocionada e agradeceu, com simplicidade, a todos que estavam na sala. “Agora vou realizar meu maior sonho que é fazer uma viagem para conhecer meu pai, que hoje tem 92 anos. Eu nunca vi meu pai. Meu sonho é poder abraçá-lo e pedir sua bênção pela primeira vez. Ele está com câncer de pele e mora no interior da Paraíba”, comoveu-se, com lágrimas nos olhos.

Maria Lucas, que nunca tinha entrado no fórum, veio para Goiás ainda bebê, com seis meses de vida. A mãe morreu no parto e quando o pai veio passear em Santa Helena na casa de uns amigos, deixou a filha sob os cuidados de uma comadre. Filha caçula de três irmãos, ela tomou conhecimento recentemente de que tem somente uma irmã viva, que mora junto com o pai no interior da Paraíba, e admite que nunca os viu desde a infância.

Aos 20 anos, Maria casou-se com Geraldo Izidio e teve de providenciar a documentação oficial para legalizar a união, já que nem certidão de nascimento portava quando seu pai a deixou com a madrinha juntamente com uma sacola que continha poucas peças de roupas e um sapatinho. Para criar os 10 filhos (7 meninas e 3 meninos), Maria e Geraldo passaram por muitas privações, mas fizeram questão que eles estudassem.

“O difícil foi o pai sozinho sustentar a gente. Eram 12 pessoas na casa e só ele trabalhava fora para ganhar dinheiro. O que dava para comprar, era arroz e feijão, verdura a gente plantava. O que nos aliviava era a ajuda que a igreja nos dava, todo mês com uma cesta básica. Nossos padrinhos também mandavam roupas, calçados e alguns poucos brinquedos”, contou Lucineide Santana Lucas dos Santos, filha de Maria Lucas.

Lucineide explicou ainda que, os irmãos mais velhos, com o passar do tempo, deixaram os estudos para ajudar nas despesas da casa. Geraldo atualmente tem problemas na coluna por ter trabalhado boa parte da vida na colheita de cana, segundo relatou a jovem, mas alguns dos irmãos voltaram recentemente à escola para tentar cursar faculdade e tentar dar um futuro melhor para os pais.

De acordo com ela, mesmo diante de toda dificuldade, a família sempre permaneceu unida. “Sinto muito orgulho dos meus pais e irmãos. Queria agradecer a todos do fórum de Santa Helena, especialmente à juíza que tratou minha mãe bem. Com esse dinheiro que ela vai receber vou poder acompanhá-la até o sítio na Paraíba, para conhecermos juntas meu avô, que está muito doente”, comemorou. Fonte: TJGO